24.2.06

VITA

Vaticinar sobre o nada. Profetizar sobre o vazio. Nesta expressão ridícula animada em que me movimento e degrado, ilusoriamente cobiçando a fortuna de glória e poder (qual Cervantes fecundando quixotes “ridículos e pretensiosos”), procuro a serenidade, perpétua e definitiva, do longínquo “mar de âmnio”.

Queimo a nicociana nos dias, descrente, já, que nalgum deles ela venha a cumprir a essência do seu fado.

22.2.06

ADEUS


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.


(Eugénio de Andrade)

17.2.06

VENTU

Entrego-me às fantasias e devaneios de um tempo absurdo que não existe, que não é meu… irreal. Transponho cada dia que se esfuma, projectando no imediato a necessidade de sentir o manifesto que procuro. Implacável, o tempo absorve, violento e indiferente, a mágoa que já não é dor, tamanha a catálise desta linha de vento.

Pairo sobre Roseman Bridge, alheio a tudo e a todos, qual mariposa de Yeats.

14.2.06

CORTEJAR

O erotismo no namoro é um querer por mais e mais te ter!
É um arroubo real… e fictício, pelo saborear, sôfrego, de toda a tua saliva.
Oscular ao de leve os segmentos vermelhos e carnudos que te protegem a boca.

Nem que seja pela última vez! Hoje.

10.2.06

CONSANGUINITATE

Esquivo-me aos “sentimentos” da mortalha.
O termo da existência é por demais íntimo. Não se partilha.
Só a consanguinidade pode mergulhar no momento, no eclipse.
A percepção do pesar por outrem não se define ou transmite.
Sente-se, apenas e só, na solidão dessa ausência infinita.

Para sempre… na lembrança desse vazio.

8.2.06

EMMA

Os políticos e os empreendedores!
Entre a vivência ficcional e a posição crítica da ficção… o imaginário e o real.
Sinto-me confuso.


Folheio Flaubert e a vida de Emma Bovary.

6.2.06

TESÃO

Olhar para ela dá-me tesura, ímpeto, rijeza.
A violência do embate visual naquelas formas que a terra há-de comer é incomensurável!
Compará-la com a erecção do enforcado no aperto final do laço é utópico, é conjecturar sobre um pressuposto fictício.
É um olhar em “que o meu corpo se transfigura e toca o seu próprio elemento, num corpo que já não é seu, num rio que desapareceu, onde um braço teu me procura”, diria Cesariny.

“Em todas as ruas te encontro, em todas as ruas te perco.”

3.2.06

SONU

Passo-me ao de leve pela vida, já gasto de tanto atrito pelo roçagar no pensamento “Kierkegaardiano” em busca do absurdo da existência.
O jazz do Bernardo Moreira e da Paula Oliveira ecoa algures…é “Lisboa que Adormece”.

E eu, “No Teu Poema”, oiço uma “Canção Triste”…

1.2.06

HIBERNU


Não sei o que faça,
Não sei o que penso,
O frio não passa
E o tédio é imenso.

(Fernando Pessoa, Poemas)