29.12.06

PERSICU

Com o descaro que só os mais íntimos lhe conhecem, ela começou a apalpá-lo, excitando-se com a fina penugem que lhe protegia a pele.
A mão, pequena e delicada, não lhe fazia a vontade do desejo.
Sofregamente queria apertá-lo, trincá-lo, mais e mais.
Repetiu os gestos com um, com outro… com muitos, sem vergonha, alheia ao movimento em seu redor.
Esses, os que passavam, desafortunados, olhavam com inveja, tesão. Também eles queriam ser tocados por aquele corpo, acariciados por aqueles gestos, hipnotizados por aquele olhar.
Mas, subitamente, o “bailado” de carícias findou.

O seu louco desejo por Pêssegos foi momentâneo, fugaz. Inconstante… como ela.

22.12.06

NATALE

Na rua da cidade piscam neons multicolores, baços, descrentes.
Escutam-se exércitos de pequenos sinos, cansados, esgotados.
A neve cai em fracções de tempo definidas e as pessoas, na rua da cidade, disfarçam-se de alegria. Retiram do guarda-jóias olhos brilhantes, mãos de oiro e cordões de amor.
A rua da cidade transformou-se num gigantesco palco de pantomima, onde, personagens aleatórias representam o que não lhes vai na alma.
Na rua da cidade… uma criança ainda sorri. De verdade!


Acredita, que aquele ser pantafaçudo, vestido de escarlate, é o pai natal.

15.12.06

SCRIBERE

Pintar, com palavras feitas pincéis.
Traços tímidos, sentidos, provocatórios.
São como aguarelas, os textos!
Esculpir, com palavras feitas cinzéis.
Ângulos “abruptus”, suaves, ásperos.
São como esculturas, as letras!
Estados de espírito díspares, incertos, naufragam ao sabor do momento em recatadas baias solitárias. Uma estrela incandescente, finando-se, mancha o céu de fátuo fogo. Flores, cobrem de pétalas pedras de jardins de morte, cemitério de paixões moribundas. Um olhar que se prolonga, indefinido.


E o carvão, indiferente, vai pintando esculturalmente o desabafo no papel.

8.12.06

ANNIVERSARIU

Quero trincar-te.
Saborear a tua pele, banhar-me na tua saliva.
Entrar em ti, erecto, e num só corpo ser-mos flor, pássaro, mar, sol, terra, ar, poesia.
(Ou então, apenas e só, nós.)


Exaustos, secas o meu corpo na tua língua, enquanto a minha língua por sobre o teu corpo escreve palavras de felicidade.

1.12.06

GUTTA

Chove.
As gotas caiem, solitárias, eremíticas.
Num namoro breve, aglutinam-se em leitos incertos de calma, ódio, paixão… num ciclo ininterrupto de movimento.


Atrás de si, deixam lágrimas de dor, indiferença… quantas vezes de afecto.