26.1.07

MELANCHOLIA

Queria retroceder no tempo.
Reavivar um sabor que apetece. Um olhar que teima em perdurar.
Não me perguntes porquê.
Comecei a odiar o mar. Esse mar que tu me ensinaste a amar.
Comecei a amar a solidão. Essa solidão que tu me ensinaste a odiar.
Sensação estranha, esta: sinto frio!
Será a ausência do teu calor?

Deixa-me, outra vez, secar a lágrima que soltavas na despedida.

19.1.07

LARANJA

Já não gosto de ti.
Tens sido intensamente fria, ácida em demasia para a minha constante necessidade de doçura, exuberante no brilho artificial e polido com que me olhas (de quase desdém).
Conheci-te há muito, quando ainda eras pura como a terra que te criou.
Deixavas-me nos lábios tonalidades de um sol que desvanece, lá longe, no horizonte. Como eu gostava de ti... quando me fazias salivar.
Mas hoje, já não me dizes nada.


- Tudo bem: não contes mais comigo na tua “orgiástica” taça da salada de frutas!

12.1.07

LINGUA

O ambiente era claustrofóbico.
Hermético. Escuro como o breu.
A carne, quente e pegajosa, roçava-se em movimentos desconexos, deixados. O silêncio, sepulcral, envolvia o desejo dos corpos em mais e mais prazer, puro, sentido.
Lá fora, no espaço infinito de quem ama, era dia.
Mas… Elas roçavam-se na escuridão.


Mitigado o apetite dos amantes, descolaram os lábios, as línguas, e partilharam palavras de amor.

5.1.07

TANGO

Latidos de Buenos Aires ecoavam no espaço, enquanto no ar pairava o aroma de um velho amigo de 30 anos, fino e raro para os dias que correm: “James Martin’s” de seu apelido.
Sabia, que fora deste seu mundo, se vomitavam palavras de ocasião sobre os desejos a realizar no decorrer da nova viagem da Terra em torno do Sol.
Boçalidades triviais acerca da génese de um novo período, ridículas, como que acreditando que o nascimento de um tempo se curva às vontades primárias de indigentes intelectuais mortais!
Reconhecendo tal constatação e com um traço de escárnio na face, degustou longamente a maturação da sua velha amizade.
Amplificou um pouco mais os acordes de “Aníbal Troilo e su Orquestra” e recordou antigos passos de dança em braços (ainda) tão desejados.


“Y el corazón, se sabe, no siempre necessita de palabras para contar qué siente.”