28.9.07

APTARE

Falaste-me de saudades.
Mas terão os nossos beijos o mesmo sabor?
Continuarás fiel ao perfume que me cativou?
Será o mar, ainda, o teu secreto confidente?
Sinto-me inseguro!
Recordo o calor da tua língua, a tua saliva, o aroma do teu corpo, os meus ciúmes pelo oceano imenso…

Eu também tenho saudades, mas...

21.9.07

PUNITIONE

Os olhos, banhados por lágrimas que teimavam em se desprender das órbitas, deixavam-na contraída, tensa... um pouco envergonhada.
As suas paixões, até ao momento, tinham sido fugazes, superficiais, às vezes ridículas: se calhar, mesmo, nunca esteve apaixonada!
Mas agora sentia que era diferente. Sensações que julgava não existirem apoderavam-se dela nos locais mais inoportunos: na celebração domingueira, no quadragésimo sexto encontro de catequistas (ao qual nunca faltou) ou na venda de rifas para os missionários da Guiné.
Apesar de tudo... foi obrigada a deixar aquele que seria, talvez, o caso mais sério das suas palpitações cardiológicas.
A sua mãe, de oitenta e três viçosas primaveras, proibiu-a de olhar nos olhos do senhor Américo Merceeiro…

…viúvo há mais de dois quarteirões de anos!

14.9.07

INCERTEZA

Na incerteza do teu querer...
retraio a vontade do meu desejo.
Outras vezes, muitas...
na vontade do teu desejo retraio a vontade do meu querer.

Mas... talvez acabe por ceder à vontade do teu querer soltando a vontade do meu desejo (ou talvez não).

7.9.07

POENA

Passou por ele (logo pela manhã) toda engalanada.
Parecia um “espanador” colorido de viçosas e brilhantes penas.
Extasiado, ficou a magicar sobre a forma de a seduzir, conquistar-lhe a confiança... e possuir.
Enterrar-lhe, nas partes mais íntimas, o instrumento pontiagudo, pequeno e delgado que tanto prazer lhe proporcionava.
...
Satisfez os seus desejos quando a noite se espreguiçava e acordava de mansinho por sobre um cetim cor de fogo em que o dia se enrolava.
Parecia uma bailarina... Massajou-a com azeite, alho, sal, gindungo mais outras especiarias ditas afrodisíacas e deixou o inevitável tempo correr. Por fim, saboreou-lhe as pernas roliças, o peito carnudo... o rabo, “sensual”.

(Sem margem para dúvidas, exclamou: é uma “Franga do Campo”!)