30.11.07

NUDU

Libertando o seu característico aroma “Kolnisch Wasser 4711”, deixou pela mansão o indício de que o encontro iria ser romântico…
e saiu para a rua, apressado, não dando ouvidos sequer ao chamamento preocupado e estupefacto da Governanta.
Estranhou o vento frio no rosto que lhe deixou os olhos banhados em lágrimas! As gélidas gotas de água que escorriam dos cabelos! A insuportável dor que sentia na palma dos seus pés! Os estranhos arrepios que avassaladoramente se apoderavam do seu corpo! Os olhares anormais que o perseguiam!
O encontro, romântico, para o qual na ânsia apressada se dirigia…


terminou na Esquadra da Polícia acusado de exibicionismo e consequente atentado ao “pudor” público (sic)!

23.11.07

SOMNIU

Sonha com um sonho há muito sonhado.
Sonha-o como um sonho que se sonha...
e que talvez nunca encarne.
Mas sonha!

Porque sonhar... é isso mesmo.

16.11.07

CORNU

As mamas, trabalhadas como Miguel Ângelo trabalhou o mais fino mármore de Carrara, transbordam volúptia, sensualidade.
- Foram-lhe “oferecidas” por um namorado fanático pelas grandezas!

O rabo, digno da sensibilidade de Cargaleiro, convida ao toque, à apalpação.
- Foi “patrocinado” pelo seu amante, apreciador das “bundas” de Vera Cruz!
O rosto… bem, o rosto é uma intersecção das pinceladas de Da Vinci, das excentricidades de Dali ou dos devaneios de Picasso.
- Resultou de ocasional capricho proporcionado por mero deslumbramento pedântico de um industrial da construção civil!
Ele, o mais íntegro (?) de todos, seu marido, espera…

… e espera tão só que a medicina lhe permita “apadrinhar” a necessária “plástica” ao cérebro que ela urgentemente necessita (sic)!

9.11.07

EXAGIU (TRÊS)

Os olhos, fixos nos olhos que se esbatiam no espelho mostravam-se alheios ao ziguezaguear da fria lâmina que ia escanhoando a pele.
Nas faces, cobertas de uma espuma que lembrava neve, imaginou-se a deslizar, encosta abaixo, rumo a um fim de dia (mais um) repetitivo e monocromático.
Por momentos, imaginou que poderia surgir uma nova cor!
Mas… porque haveria de surgir uma nova cor? Que tonalidade lhe daria o prazer que procurava (se é que procurava)?

Uma gota de sangue brotou da sua face como que acordando-o para a realidade.

2.11.07

REPRAESENTARE

É o dia da morte!
Os “zombies” celebram sobre um frio naco de terra vidas defuntas encarnadas em pindéricos “bouquets” incolores de sentido.
As lágrimas, forçadas, insossas, fétidas, jorram de “máximas cloacas” profundas, longas, cor de breu… cumprindo o ritual.

São os vivos, mortos, a representar sem tino na cínica tina da vida.

No dia de finados (ou de refinados hipócritas).