21.9.07

PUNITIONE

Os olhos, banhados por lágrimas que teimavam em se desprender das órbitas, deixavam-na contraída, tensa... um pouco envergonhada.
As suas paixões, até ao momento, tinham sido fugazes, superficiais, às vezes ridículas: se calhar, mesmo, nunca esteve apaixonada!
Mas agora sentia que era diferente. Sensações que julgava não existirem apoderavam-se dela nos locais mais inoportunos: na celebração domingueira, no quadragésimo sexto encontro de catequistas (ao qual nunca faltou) ou na venda de rifas para os missionários da Guiné.
Apesar de tudo... foi obrigada a deixar aquele que seria, talvez, o caso mais sério das suas palpitações cardiológicas.
A sua mãe, de oitenta e três viçosas primaveras, proibiu-a de olhar nos olhos do senhor Américo Merceeiro…

…viúvo há mais de dois quarteirões de anos!